CORTEJO PRETO 2025
NZUMBII'A LUMBU
O CORTEJO PRETO NZUMBII’A LUMBU mergulha na cultura africana diaspórica no Brasil para criar uma experiência única. Traz consigo a força dos festejos pretos de culto aos ancestrais por meio da dança, da música e de uma estética vibrante e ritualística.
O nome Nzumbii’a Lumbu remete à fusão de influências linguísticas bantus, evocando o conceito de "Deuses da Luz" para guiar e proteger a comunidade. Muntus mascarados e trajados com tecidos bordados e fitas recriam a atmosfera dos cortejos ancestrais, enquanto os tambores, ferramentas e os chocalhos ecoam em ritmos que dialogam com o baque dos maracatus, a energia dos cortejos de Mandu e Zambiapunga.
Mais do que um espetáculo, Nzumbii’a Lumbu é um ritual de celebração, onde corpo, som e espiritualidade se entrelaçam. Cada movimento e cada batida são um chamado para o resgate da memória e da identidade africano diaspórica no Brasil, reafirmando que os espíritos dos que vieram antes continuam vivos na dança dos que seguem.


LANÇAMENTO
EP ZUMBIIDO

“ZUMBIIDO” exalta os fortes chamados para a unidade africana em todo o mundo.
No dia 08 de julho de 2024 (segunda-feira), a Comunidade ZUMBIIDO promoveu a audição e um coquetel de lançamento do seu primeiro EP intitulado “ZUMBIIDO”, no espaço cultural independente Matilha Cultural, na região central de São Paulo.
O primeiro EP produzido autonomamente por Kânda ZUMBIIDO registra as primeiras canções criadas pela comunidade para o Cortejo de seu Bloco Preto, um dos blocos mais emblemáticos da cultura afro-diaspórica brasileira.
“A música é vibração e frequência, o ânimo primeiro. ZUMBIIDO é o som do transe. É o estímulo no vazio que antecede a luz. E é no transe, o lugar profundo e escuro entre os dois mundos, que nos conectamos com o todo. No inconsciente está o começo de tudo”, são as diretrizes exaltadas pela comunidade no lançamento desta obra.
O EP é composto por quatro faixas sendo “Prelúdio Negro” um chamado de guerra, “Rainha e Reis” uma celebração da capacidade de unidade (o propósito Umoja) através da metáfora do “negro, o ser de luz”; além de “Sou um” que, em clima de Ijexá, demonstra o eixo da comunidade, o quanto as pessoas que a integram se tornam células de um grande organismo e do quanto Ifé (amor como ação) é importante para elas.
A quarta faixa, “A mola do mundo”, é uma música que faz uso da metáfora desta grande moenda, que é o mundo ocidental, para tentar revelar todos os aspectos de grandeza do povo preto. É um vissungo, um canto de lamento e de protesto ao mesmo tempo, com uma promessa de vitória.
ZUMBIIDO
NOSSA
COMUNIDADE
ZUMBIIDO é Kanda. Afroascendente por essência, da diáspora africana, organizada desde 2007. É a união de homens pretos e mulheres pretas. Em seu sopro primeiro é a verbalização do levante do povo preto ao reconhecer-se como desdobramento e ressonância do legado do imortal líder revolucionário, Honorável Rei Zumbi de N'gola Janga (Palmares).
É espírito, corpo e mente autônomo e agente, que é construída e constrói, é organização e organiza, é mantida e mantém, é frequentada e frequenta, é promovida por e promove suas células, as pessoas pretas e é experiência e assunto próprio delas.
Neste espaço, trata-se do exercício da consciência, da identidade, da cura à partir da força, da proteção à partir do compromisso, do cuidado à partir da auto-responsabilização, da construção e manutenção de nossa intersubjetividade, da contracolonização de mentes e corpos diante de um mundo que se organiza para subjugar e exterminar pessoas pretas.

BLOCO PRETO
ZUMBIIDO AFROPERCUSSIVO
Bloco Preto ZUMBIIDO AFROPERCUSSIVO é um grupo percussivo com propósito de consolidação da cultura preta. É um espaço de reflexão e vivência acerca dos saberes e fazeres da cultura africana somente para pessoas pretas.
É um núcleo de práticas que dissemina a cultura através da linguagem da música percussiva, do canto e da dança a fim de estabelecer um processo de interesse, não somente nas festividades, mas também na consciência racial, política e cultural da comunidade preta. Desenvolvendo assim, um ambiente de construção e troca de ideias, pesquisa e resgate destas tradições que colabora para a construção do levante da nação preta.

O CORTEJO PRETO

"Esta grande festa de largo emana do
povo preto e foi criada para exaltar o poder da
união preta em torno de um propósito
a partir de sua cultura".
Vestimos um sonho mas nunca uma fantasia.
Em nossa casa dizemos "imaginar é o primeiro passo" porque tudo ocorre em Ori antes de vir ao mundo.
Construímos incessantemente imagens de tudo aquilo que queremos realizado. Não há nada mais urgente a ser construído se não a união preta como povo - é esta a nossa ideia de restabelecimento de poder, a auto-imagem.
Neste dia vestimos a vitória dos exércitos pretos, cantamos nossa espiritualidade, dançamos a liberdade das crianças pretas, tocamos as re-existências de nossos ancestrais. Ventilamos o futuro ao celebrar os feitos, frutos e vitórias do ano através da união de nossa comunidade. Desfilamos para nosso povo o testemunho de que entre pretas e pretos, pensando raça primeiro, tudo é possível - Estando orgulhosos pelo que se fez e provocados para o que ainda não se fez.
Antes de ir à rua, fomos uma casa cujo quintal foi salvo - nosso chão não é poeira. Muito foi sonhado e organizado por estas pessoas. Tudo o que se vê neste dia foi imaginado, semeado, executado, repetido, mantido, patrocinado por homens e mulheres pretas de propósito.
Suas famílias de sangue, seus filhos, pais e avós, seus amigos e parceiros estiveram juntos. A vontade foi cultuada para o caminho que ninguém caminha.
CORTEJO PRETO 2024
MWENE KONGO
O Mwene alcança Tukula. Por isso, veste-se como um caçador. Vida longa ao Senhor do Kongo!
"Manicongo" diz-se, na verdade, Mwene Kongo e era o título dos governantes congos do Reino do Congo, um reino que existiu em África, entre o Século XIV e o Século XIX.
O termo "Manicongo" é uma corruptela da palavra em quicongo, "Mwene Kongo" (literalmente "senhor do Congo"). O termo "wene" refere-se tanto ao reino como um todo, quanto a cada uma das unidades territoriais que o integravam. Os senhores dessas wene eram chamados de "Mwene", sendo que o Manicongo era o Mwene mais poderoso do reino, reconhecido como líder ("ntinu") pelos portugueses, desde a invasão, em 1483.
O "Manicongo" residia na cidade-capital do reino, Mabanza Congo, que passou a chamar-se São Salvador desde a conversão dos congos ao cristianismo católico. O manicongo nomeava os governadores das províncias e recolhia os impostos que estipulava. O Reino do Congo existia na região do baixo Congo, num território hoje pertencente a Angola e à República Democrática do Congo, e teve desde o século XV contatos intensos com os Portugueses, que chegaram a converter boa parte da população à religião católica.
Nímia Luqueni (Lukeni lua Nimi; c.1380-1420) foi o fundador tradicional da Casa de Lukeni, primeiro manicongo e fundador do Reino do Congo (Día Ntotila). O nome de Nímia Lukeni é citado na tradição oral e por alguns historiadores e arqueólogos contemporâneos. Ele também foi o conquistador do Reino de Mwene.
Embora ele tenha governado ao longo do vale do rio Coulo, foi tradicionalmente creditado como conquistador da cidade de M'banza Kongo, substituindo o governante local Muene Cabunga (ou Muene Impangala), construindo sua capital na região, assumindo título de Ntinu e fundando o Reino do Congo, governando provavelmente até o início do século XV. Ele é, portanto, considerado o fundador do Reino do Congo, embora alguns atribuam o feito a seu pai. Algumas fontes ainda atribuem a conquista do vale de Inkisi de Sundí e Impango, sendo estas terras divididas entre seus parentes.

CORTEJO PRETO 2023
Z'MUKANDA
Mukanda Cortejo Preto 2023 aconteceu em São Paulo-SP, no Largo do Paissandu às 13H00 do dia 18 de Fevereiro de 2023.
Para nós, descendentes de Bantus, Mukanda ou Quilombo não é só sinônimo de lugar físico. Além de terra, Mukanda é um processo iniciático e de passagem. Um constante desenvolvimento e de formação de identidade pessoal e coletiva. Mukanda nos prepara para interiorizar os valores de nossos ancestrais conforme nossa personalidade. Nos coloca no caminho da Comunidade.
A palavra Mukanda tem origens entre os povos Bantu da África Central e refere-se a um rito de passagem que marca a transição da infância para a idade adulta, frequentemente envolvendo um período de aprendizado e ritualização em que o indivíduo é instruído sobre os valores, histórias e tradições de sua cultura. Esses ritos têm implicações não apenas para o desenvolvimento pessoal, mas também para a continuidade da identidade coletiva, reforçando laços sociais e a conexão com os antecessores. Em comunidades Bantu, o Mukanda é considerado uma etapa fundamental na formação de líderes e membros ativos da sociedade, preparando-os para contribuir para o bem-estar do grupo e manter a coesão comunitária.
No contexto da diáspora africana, o conceito de Mukanda foi ressignificado nas Américas, especialmente nos quilombos do Brasil. Os quilombos, como Palmares e outros, não eram refúgios físicos de resistência à escravidão, mas reinos africanos, projetos de nação, espaços em que se praticavam e preservavam rituais africanos. Nesses locais, a ideia de Mukanda transcendeu os limites do rito de passagem tradicional, tornando-se um símbolo de resistência e resiliência, onde as comunidades negras desenvolviam suas próprias formas de identidade, cultura e solidariedade em meio à adversidade. Assim, Mukanda representa não apenas a continuidade dos ritos iniciáticos, mas também a capacidade de adaptação e a criação de novas formas de expressão cultural e social nas Américas.

CORTEJO PRETO 2020
O EXÉRCITO NZ'AHOSI

Nada do que fazemos começou agora.
Nossos antepassados, nossos ancestrais entregaram seus destinos para que chegássemos até aqui. Então evocamos sua força à cada ciclo.
As guerreiras Fon, as Agondjié AHOSI, foram a inspiração para este ciclo. "Agondjié" - "Saia da frente" e "Mino Ahosi" - "nossas mães, esposas do Rei" - eram conhecidas pela habilidade, agressividade e letalidade na defesa do Reino do Daomé (Daxomey).
A rainha Tassi Hangbé (1708-1711), do Danxomey, sucessora do rei Akaba (1685-1708), idealizou o corpo militar de caça - As Agondijé, que se tornaram a primeira guarda feminina do trono - hoje conhecidas com Ahosi. Foi uma importante mudança de panorama sobre o papel feminino no Danxomey.
Este regimento tinha um status de semi-sagrado que se misturava com a crença Fon nos Voduns. Daomé e Brasil se fundem através da chegada de uma rainha escravizada que cultuava reis mortos: Nã Agotimé - A vida que se tornou a Casa das Minas do Maranhão e o culto a Vodun.
O status semi-sagrado das guerreiras Fon estava intrinsecamente ligado à cosmologia Vodun, em que forças espirituais habitavam tanto os seres humanos quanto os elementos da natureza. As Ahosi, ao serem dedicadas ao rei e ao reino, também se conectavam simbolicamente aos Voduns, tornando-se agentes do equilíbrio espiritual e protetoras do mundo físico e metafísico do Daomé. O treinamento e os rituais associados a essas guerreiras não apenas reforçavam suas habilidades físicas, mas também criavam um vínculo espiritual que as tornava ícones de força e poder. Essas práticas religiosas e militares eram reflexos da profunda inter-relação entre política, espiritualidade e sociedade nas culturas Fon.
Com a diáspora africana, elementos culturais e religiosos do Daomé encontraram novos territórios, especialmente no Brasil. A chegada de Nã Agotimé, rainha escravizada, foi um marco dessa transposição cultural. Seu papel na fundação da Casa das Minas no Maranhão representa a continuidade do culto aos Voduns no Novo Mundo. Esse culto não apenas preservou práticas religiosas do Daomé, mas também estabeleceu um espaço de resistência cultural e espiritual para os afrodescendentes no Brasil. A Casa das Minas tornou-se um centro significativo de conexão entre as tradições africanas e os desafios da vida sob escravidão, simbolizando a força das mulheres Fon em um novo contexto histórico e geográfico.
CORTEJO PRETO 2019
NZ'MAASAI
Recobrar valores civilizatórios que nos deem base para construir nossa libertação.
O povo Maasai (entre Quênia e Tanzânia) foi nossa inspiração para este ciclo. Guardiões da cultura tradicional, atentos à economia e política globais, os Maasai representam um exemplo vibrante de como as culturas indígenas podem preservar sua identidade em meio às transformações do mundo moderno.
Os Maasai são conhecidos por sua estrutura social baseada em uma organização de clãs e idades, que regula funções comunitárias como liderança, rituais de iniciação e a defesa territorial. Sua vida é profundamente ligada à pecuária, especialmente ao gado, que não é apenas uma fonte de alimento, mas também uma medida de riqueza e status. Essa relação simbiótica com o gado reflete um sistema de valores que prioriza a sustentabilidade e a interação equilibrada com o meio ambiente. Apesar das pressões externas, como a perda de terras para projetos de conservação e turismo, os Maasai têm demonstrado resiliência em negociar os desafios modernos sem abandonar suas práticas culturais centrais.
A identidade cultural dos Maasai é também expressa em suas vestes e adornos, como os tecidos vibrantes conhecidos como shúkà e os intricados trabalhos de contas, geralmente produzidos por mulheres.
Esses elementos não são apenas estéticos, mas comunicam informações sobre status social, idade e eventos importantes. Além disso, os Maasai têm se envolvido de forma crescente com o mundo globalizado, participando de debates sobre direitos territoriais e justiça ambiental, ao mesmo tempo em que utilizam a visibilidade de sua cultura para promover iniciativas de turismo comunitário e comércio justo. Assim, os Maasai continuam sendo um exemplo notável de como culturas tradicionais podem interagir com o mundo moderno sem sacrificar sua essência.

CORTEJO PRETO 2018
IMUHAGH - A FORÇA DA CRIAÇÃO
O desafio a nós imposto, de criar um Bloco Afro em São Paulo - Uma manifestação cultural do povo preto. Fundá-lo com as premissas do pan-africanismo, instrumentalizá-lo de maneira que permaneça sob controle de nossa raça e sirva como ferramenta de formação da consciência política de nossa raça.
Emanando do povo preto, das suas capacidades e recursos.
O primeiro Cortejo Preto em São Paulo advém do paralelo com o semi-nomadismo tuaregue (Imuhagh), povo berbere da região saariana do Norte da África, especialmente os de Burkina Faso e do norte da Nigéria, é uma manifestação singular de adaptação cultural e resiliência.
Os tuaregues, conhecidos como "os homens azuis" devido às vestes tingidas de anil, são guardiões de uma tradição milenar de mobilidade e de organização social, fundamentada em linhagens matrilineares e em práticas que asseguram a sobrevivência em ambientes áridos. Sua economia tradicional combina o pastoreio de camelos e cabras, o comércio transaariano e a produção de artefatos de couro e metal, essenciais para a subsistência e trocas comerciais.
Complementação Antropológica: A identidade cultural dos tuaregues é profundamente ligada à sua língua, o tamajeq, que utiliza o alfabeto tifinagh, um dos sistemas de escrita mais antigos do mundo, com raízes nas civilizações berberes pré-islâmicas. Esse sistema de escrita não apenas conecta os tuaregues a um legado histórico mais amplo, mas também reforça um senso de unidade cultural em meio às divisões políticas impostas pelas fronteiras coloniais.
Apesar de historicamente descentralizados, os tuaregues preservam uma hierarquia social que inclui nobres, religiosos e classes trabalhadoras, refletindo uma complexa organização que integra influências internas e externas ao longo dos séculos. Ademais, os tuaregues possuem uma relação simbiótica com o deserto, visto não apenas como um espaço físico, mas como um elemento espiritual e cultural central.
Os rituais de hospitalidade, as canções épicas e os mitos de criação narram sua luta constante entre as forças da natureza e a criatividade humana. A presença marcante das mulheres em sua cultura – muitas vezes responsáveis pela preservação da língua e das tradições – desafia estereótipos patriarcais predominantes em outras partes da região. Essa força criativa, aliada ao profundo conhecimento ecológico, faz do semi-nomadismo tuaregue uma das expressões mais autênticas de sobrevivência e renovação cultural no continente africano.
